O seu novo emprego

Você chegou atrasado. O carro da produtora nem apareceu, então veio de metrô. Duas baldeações, suor nas costas, e um bilhete amassado no bolso com um endereço escrito à mão:

"Loft 505 — tocar três vezes."

Subiu os degraus de cimento de um prédio antigo em São Paulo, ouvindo o próprio coração bater mais forte a cada passo. Não era vergonha — ou talvez fosse. Era o tipo de nervosismo que vem quando se entra num mundo que não se entende direito.

Lá dentro, o ar tinha cheiro de baunilha e luz difusa. Um tripé com câmera. Um espelho enorme. Um abajur com luz rosa.

E ela. Sentada no chão, de costas, vestindo só um moletom largo e meias de cor diferente

E você ?”,ela perguntou sem virar o rosto.

Ele era. Vinte e três anos. Estudante de teatro. Quebrado. Precisando de grana.

Não sabia o que esperar daquela garota chamada Iris, que tinha mais seguidores do que muitos artistas famosos e fazia da própria intimidade um negócio. Mas havia algo no jeito dela — prático, leve, quase cínico — que deixava tudo menos estranho.

“Você não precisa fingir que tá confortável. Quase ninguém tá no primeiro dia.” Ela sorriu. Não era flerte. Era aviso.

Você riu. Não era nervoso. Era alívio.

Na noite de hoje, você não se tornou um ator pornô. Nem ela, uma musa distante.

Foi só o começo de algo estranho, bonito, às vezes desconfortável — e muito mais real do que ele esperava.